Abaixo-Assinado (#53647):

Manifesto Decolonizar a Universidade!

Destinatário: Departamento de Artes Cênicas - DAC / UDESC

"Às vezes, eu temo escrever. Escrever se transforma em medo de eu não poder escapar de tantas construções coloniais. Neste mundo eu sou vista como um corpo que não pode construir conhecimento, como um corpo sem lugar. Eu sei que enquanto eu escrevo, cada palavra que eu escolho será examinada e até mesmo invalidada. Então, por que eu escrevo? Eu preciso. Eu estou incorporada em uma História de silenciamentos impostos, de vozes torturadas, línguas despedaçadas, discursos interrompidos. E eu estou cercada por espaços brancos, onde eu dificilmente posso entrar ou permanecer."
(Grada Kilomba)

"Ora, na medida em que nós negros estamos na lata de lixo da sociedade brasileira, pois assim o determina a lógica da dominação (...) o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações. (...) Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa.”
(Lélia Gonzalez)

Ao Departamento de Artes Cênicas (DAC)
do Centro de Artes (Ceart)
da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc):

Nós, artistas, estudanties, docenties, pesquisadories, pessoas cis, queer e trans, brancas, pretas e indígenas, corpas dissidentes inseridas em luta pela diversidade, escrevemos este manifesto para questionar o Departamento de Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina: onde estão as referências de pessoas pretas, indígenas, LGBTQIA+ e decoloniais no edital nº 02/2021 para seleção de docenties substitutes em caráter temporário?

2021. Já era tempo de a instituição universitária revisar suas narrativas. Mas a seleção para docenties substitutes do Curso de Graduação em Teatro do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina opta por ainda manter em seu currículo referenciais coloniais, com uma centralidade dos discursos de homens, cis, brancos, héteros, europeus.

Onde estão os escritos e produções teóricas de mulheres, de pessoas LGBTQIA+, de pessoas negras e indígenas da América Latina e do Brasil?

Sabemos quais são os significados sociais e históricos de uma bibliografia quase que exclusivamente pautada pela história “dos vencedores”. Como consequência de uma episteme eurocentrada, temos um cenário acadêmico que institucionaliza o racismo, o machismo, a homofobia e as demais opressões, reduzindo a prática e a teoria teatrais a uma lógica colonial, machista, eurocêntrica e branca.

Essa escolha, fundamentada na operacionalidade da branquitude, acaba por perpetuar uma perspectiva dos processos de ensino e aprendizagem que já não condizem com as conquistas alcançadas pelas lutas sociais na contemporaneidade, inclusive no próprio Ceart.

Até quando a instituição universitária e as pessoas que a constituem seguirão mantendo excluídas das políticas educacionais as corpas marginalizadas sob defesa do discurso da dita história oficial? É urgente colocar em prática os discursos sobre decolonialidade!

É preciso desinstitucionalizar a pretensa universalidade consolidada na lógica da branquitude que apresenta as epistemologias e referências brancas como conhecimentos universalizantes e obrigatórios. Só para citar um exemplo, da área de teoria teatral, das quinze referências listadas, treze são homens brancos, duas são mulheres brancas.

Um mesmo Centro de Artes que em sua seleção para Pós-Graduação em Teatro reserva cotas de reparação histórica para regiões Norte e Nordeste, pessoas negras, indígenas e trans, precisa ter coerência em seu discurso.

Não basta somente formar pessoas pretas, indígenas e trans em curso de graduação e pós-graduação e não lhes conferir acesso e permanência institucionais. É necessário, para além das ações afirmativas, estratégias de permanência, como bolsas de graduação, mestrado e doutorado com recortes racial, gênero e econômico. Assim como, concursos públicos e processos seletivos com a reserva de vagas com os mesmos recortes citados.

Decolonizar saberes implica não apenas a adoção de metodologias inovadoras, mas também referências não hegemônicas, que escapem ao essencialismo do pensamento europeu dominante.

Ao colocar determinados saberes epistemológicos como centrais, essenciais, clássicos, sem racializar estes pressupostos e as lacunas históricas permeadas, a branquitude continua a operar e se estabelecer como norma, racializando es outres e se mantendo no privilégio simbólico assegurado por sua pretensa universalidade.

Nós não pedimos passagem. Estamos aqui para devolver a demanda histórica que a branquitude e o projeto colonial consolidaram, evidenciados na Universidade como um espaço que historicamente se constituiu como branco, machista e cisnormativo.

Exigimos ocupar este espaço de poder que é a instituição universitária, reformular os currículos e disputar discursos em favor de uma equidade nos processos de seleção e constituição das referências para concursos e processos seletivos em todo o país, para discentes e docentes.

Nenhum direito a menos, nenhum passo atrás.

Haverá resistência. Representatividade importa.

Decoloniza, Ceart!

Biblioteca virtual para diversidade: https://drive.google.com/drive/folders/1NXq0Sls-DfO102Q0RI3CwsJR0T3_OJbY



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