Abaixo-Assinado (#56260):

Dos Profissionais Técnicos em Enfermagem à Central de Regulação do SAMU RN

Destinatário: Central de Regulação do SAMU RN

Heróis, anjos do asfalto...
De fato, parece que somos um pouco disso mesmo. A ponta do SUS, o braço mais longo, quando ele sai do seu lugar fixo e vai em busca do doente na sua fase mais aguda, quando está no seu momento de decrepitude, quando está cheio de dores no chão quente das cidades.
O SAMU é um lugar de trabalho para verdadeiros apaixonados, para aqueles cuja missão de vida, mais que uma formação técnica, é salvar vidas. Salário justo, boas condições, sim, queremos. Mas é na hora em que conseguimos fazer a diferença entre a vida e a morte de alguém, entre dor e paz, entre sofrimento e esperança, que nossa alegria se expande às fronteiras do inimaginável.
É no sorriso de alívio quando uma dor cede, é quando ouvimos “calma, gente, o SAMU chegou” que o peso de ter largado filhos, casa, família, amigos, feriado, final de semana deixa nossos ombros.
A ausência do rádio nos roubou a boa tensão do “USB 10, USB 10, Central. QAP, Central. Código 3...”. Hoje, além dessa falta, boba até, sentimos falta de sermos verdadeiramente úteis e necessários. Pois atender uma pessoa com cólica menstrual, unha encravada, gripe leve, infecção intestinal, uma queimadura por água viva na mão, não é nem de longe aquilo que fomos formados para fazer. Samuzeiro foi forjado na emergência, em fazer o que for preciso para salvar uma vida. São cursos, formações, aulas, inúmeros vídeos, um investimento para uma formação qualificada, ampla, cheia de possibilidades de atuação. E, sim, incomoda muito fazermos a regulação in loco, quando é função do médico regulador fazer isso por telefone.
Quando as ocorrências são sistematicamente falhas, são os médicos que abrem mão de sua atribuição de regular e colocam sobre as equipes da rua essa função, sem o devido repasse financeiro para tal.
Ser acionado para uma ocorrência cuja natureza é “o solicitante tá ligando muito, perturbando, vá lá dar esse QTA” ultrapassa os limites do aceitável, é um desrespeito. Nenhum colega se nega a ser acordado para atender uma PCR às 2h da manhã. Ponho a mão no fogo pela imensa maioria deles. Contudo, não vamos felizes atender, a essa hora, uma mulher que teve um fluxo menstrual aumentado.
Também adoecemos quando solicitamos uma Unidade de Suporte Avançado e a Regulação Médica não libera, questiona uma pá de vezes antes de liberar; quando a Unidade chega com má vontade, com irritação, com queixas e se recusa a fazer a remoção.
Há um tempo, bastava um “Central, USA no QTH”. Sem pensar meia vez a rádio operação acionava a equipe. As que estavam na rua pediam para ir realizar o atendimento. O que houve conosco? O que mudou ao longo dos anos?
Aquilo que se esmaeceu na alegria dos profissionais das ruas ainda resiste e encontra intensidade nas raras ocorrências pertinentes. Quando não estamos fazendo “a caridade” que o médico regulador vai contar como sua. Cada saída do PA é um risco, um não vários: da estrada, dos componentes da ambulância, das áreas de risco e vulnerabilidade social... Por isso, cada saída deveria ser muito cara à Regulação Médica. Cara também no sentido do valor. São ao menos dois profissionais qualificados, a bordo de um veículo oficial, com custos elevados, que são mobilizados muitas vezes sem a menor necessidade.

Exemplos não faltam para que a gente perca pouco tempo nesse ponto. Como se diz no popular: as inúmeras falhas da regulação médica já são prego batido e ponta virada. Agora é saber: o que vamos fazer para resolver isso.
A análise sistemática das ocorrências notificadas com não conformes é a primeira etapa. Não se pretende cercear o direito do profissional de medicina enviar ou não uma ambulância, mas alguma avaliação disso é necessária. E, caso seja constatada falha, esse profissional precisa ser reorientado. Sob pena de esgotamento físico e mental daqueles que se importam com o Serviço.
Não dá mais para aceitar MR que não é MI. Estar nas ruas é a essência desse Serviço. É preciso que haja um mínimo rodízio nessas funções. Além disso, a contratação de profissionais de medicina com, pelo menos dois anos comprovados em serviços de urgência fixos. Assim como é exigido para outras categorias. Além de amplo conhecimento acerca do SUS, da região atendida, das portarias que regem o Serviço.
E uma abertura completa e total a ouvir as equipes das ruas. Somos os olhos da regulação, que os médicos sejam os ouvidos. Atentos e atenciosos, rápidos e eficazes.
Queremos o imediato fim dos ruídos entre nossa comunicação. Que os médicos tenham suporte jurídico para trabalharem sem medo de processos e que tenham assegurados os seus direitos e salários. Queremos uma relação isonômica a respeito do que for possível, respeitando as atribuições de cada um.
Enfim, queremos nosso SAMU RN de volta. Aquele cujo brilho no olho se refletia na bota no chão; aquele cujos atendimentos eram, de fato, importantes e não um “já que tá aí, leve”. Queremos um SAMU diferente, maior, melhor, vivo e pulsante nos corações de quem aqui trabalha e de quem dele precisa. Parar de ouvir “o SAMU agora atende isso?” e ouvir “quando o SAMU tá na rua, tá salvando uma vida”.

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