Abaixo-Assinado (#60647):

cessação da prática de venda de votos/números para competição de Rei e Rainha da Pipoca na escola APOGEU Pará de MInas

Destinatário: pais/responsáveis de alunos discordantes da prática da arrecadação financeira apontada

Os signatários, abaixo assinados, subscrevem o presente documento com o entendimento de que o espaço escolar, seja privado ou público deve, na pessoa de seus gestores, oportunizar a livre manifestação por parte de integrantes da comunidade na qual está inserida, democraticamente. No contexto aqui explicitado, destacamos o pensamento unificado de pais e responsáveis pelos alunos desta instituição, atentos aos valores por ela adotados e publicizados.
Verifica-se que, no ano de 2023, no Apogeu, ocorreu a efetivação de ações festivas, juninas, da qual fazia parte a eleição de Rei e Rainha da Pipoca, com uma modalidade de arrecadação em que foram distribuídas aos alunos, cartelas contendo unidades numéricas a serem vendidas por um preço padrão. À época, diversos pais manifestaram sua discordância em relação a esta prática, em reunião. No entanto, em 2024, o mesmo fato voltou a se repetir.
Diante disso, novamente questionamos esta prática, agora de forma mais incisiva, porém, acreditando na civilidade do diálogo. Importante frisar que não é uma manifestação vazia, sem bases racionais. A discordância ora expressa se baseia em vários pontos de vista que, nós signatárias/os, partilhamos no arcabouço de nossos princípios e valores, entre os quais destacamos:
1- ATENÇÃO PARA COM O SIGNIFICADO DO CONTEÚDO DISPONIBILIZADO ÀS NOVAS GERAÇÕES
Acreditamos na necessidade de questionar os valores associados à reprodução de costumes que se alicerçam em práticas excludentes e em desacordo com uma sociedade democrática e inclusiva.
Analisando a prática de eleição de Rei e Rainha da Pipoca, a partir de uma perspectiva histórica, nos convencemos de que esta remonta a uma tradição colonial, alicerçadas em valores relacionados ao Antigo Regime. Na Monarquia os títulos de fidalguia e nobreza garantiam distinção e prestígio a determinados sujeitos. Tal prática, em nenhum sentido, coaduna com nosso senso de igualdade, equidade, inclusão e responsabilidade social, pois valoriza uma estrutura de poder excludente e altamente hierarquizada, em que as posições sociais, frequentemente, estão baseadas em títulos nobiliárquicos, a servirem como fatores de valorização de alguns indivíduos, poucos, e inferiorização de outros, muitos, em uma espécie de verticalização da sociedade.
No caso em tela, quando a prática de coroar Rei e Rainha da pipoca vem associada à venda de votos ou rifas, ela afirma uma visão baseada unicamente em valores monetários, segundo a qual, torna-se “Rei” e “Rainha” com prestígio e distinção, aqueles ou aquelas que apresentem maior condição de ganhar dinheiro ou de acumular mais posses, e que assim podem beneficiar e serem beneficiados, atualizando o discurso do Antigo Regime. Importante frisar que neste contexto social, se chegava à condição de nobre em decorrência de concessão primária ou de herança. Em qualquer dos casos, eram sempre os que tinham dinheiro suficiente para comprar os títulos nobiliárquicos.
2- ADOÇÃO DE NOVOS PARADIGMAS
Do ponto de vista de análise moral de nossa história, em uma outra abordagem que se abriga, também, no período da Monarquia, encontraremos o tema que aqui não pode deixar de ser citado, qual seja, a estrutura escravocrata que sustentou a Monarquia e os títulos de fidalguia a ela associados. É real, é histórico, este período em que o princípio de humanidade era negado a parte significativa dos súditos do Rei.
Assim, quando uma instituição de ensino, na atualidade, insiste em glorificar a prática de coroação do Rei e da Rainha da pipoca, reforça o arquétipo que tanto combatemos, e que contribui para reiterar valores relacionados a um passado aviltante.
3- A IMPORTÂNCIA DE SEGUIR DIRETRIZES ESTABELECIDAS POR FONTES LEGÍTIMAS
Elencamos aqui, a questão trazida pela perspectiva de uma formação visando a Educação Global para a Cidadania, em acordo com os princípios da UNESCO; entre os quais se destacam a solidariedade e a inclusão. Do ponto de vista estrutural, estes fatores são essenciais, entre outros, para uma formatação de qualidade do Projeto Político Pedagógico de qualquer instituição de ensino.
4- DESCONSTRUÇÃO DE PRECEITOS ULTRAPASSADOS E AFIRMAÇÃO DE NOVOS VALORES
Embora a prática de coroar rei e rainha da pipoca seja comum às escolas e pareça, sob um olhar ingênuo, uma mera tradição, ela não contribui para a afirmação de um ensino que possa descontruir as bases de sistemas arcaicos, não inclusivos e não democráticos. A competição baseada no fator financeiro remete a nosso passado colonial, onde era possível até possuir um ser humano, tendo como base o nível social da pessoa. Nível este atrelado à capacidade de faturar de cada cidadão. Analisando a atualidade, remete à valorização do sucesso econômico, levando às práticas que visam ganhar dinheiro a qualquer custo, com a consequente derrocada moral e intelectual de nossa sociedade. Enfim, se trata da dominação do poder do dinheiro sobre o senso de humanidade e da ética.
5- EVITANDO CONSEQUÊNCIAS INDESEJÁVEIS PARA AS CRIANÇAS
É preciso considerar o que vem acontecendo com as crianças na escola, a partir de ações em que, praticamente, se impõe a elas o enfrentamento de um desafio, muito peculiar, de participar de uma corrida arrecadatória de dinheiro. Na cabeça das crianças, o que se propõe no ambiente escolar, soa como uma obrigação a ser cumprida. Perante as crianças, os educadores e gestores da escola se legitimam como condutores de sua vida, também, enquanto auxiliares dos pais na tarefa de educar e formar consciências. Uma tarefa mal pensada, pode beneficiar ou prejudicar a criança. Auxilia em todos os processos assertivos de aprendizagem. Prejudicam quando induzem a criança ao desconforto de um desafio que não lhe cabe assumir. Dinheiro em espécie é um fator que não está ao alcance natural das crianças. Seus pais são provedores. Atribuir à criança tal obrigação de gerar dinheiro, pode ocasionar efeito negativo que afeta seu comportamento. Algumas crianças simplesmente repassam a tarefa aos pais, sem preocupações. E nem se importam com o que vai acontecer. Outras se apegam a esta tarefa como uma obrigação inadiável. Insistem com os pais, se angustiam, brigam e choram quando os pais discordam de ajudar na arrecadação. E quando se entregam no cumprimento desta tarefa, criam uma expectativa distorcida, porque se acreditam imbatíveis. E o único resultado satisfatório é ganhar como Rei ou Rainha da Pipoca. Inúmeros pais enfrentam em casa, com os filhos nesta condição, episódios indesejáveis. Isso repercute no equilíbrio do ambiente familiar. Se pai e mãe se colocarem em posicionamentos discordantes, pior ainda. Considerando a possibilidade de crianças obcecadas, apegadas à única posição admitida, a de vencedor, teremos em mente que rifas, bingos, cartelas e assemelhados não colaboram para a manutenção da saúde mental das crianças. A frustação indevida tem suas consequências. E essa particularidade, de vencer aquele que consegue arrecadar mais, não tem relação com a necessidade de saber perder e ganhar. Essa aprendizagem se proporciona com outras modalidades de ações competitivas. Acreditamos que o mais saudável são as ferramentas que ajudem nossos filhos a superar derrotas, como as competições nas áreas do esporte, da dança, música, e criações intelectuais como prêmios literários, etc. Nessas situações, o valor está associado ao esforço e desempenho das crianças, não ao seu poder aquisitivo ou sua capacidade (ou de seus familiares) em mobilizar recursos financeiros.
6- ESCLARECIMENTO SOBRE A INTENÇÃO RELATIVA A ESTE TEXTO
Reiteramos que este posicionamento, em relação a esta ação que tem por fim coroar Rei e Rainha da Pipoca, não se deve à disputa em si. A competição saudável deve ser propiciada aos estudantes, desde a tenra idade, como forma de preparação para o exercício da cidadania, interação com o mundo e para o amadurecimento da personalidade. Porém, com a utilização de metodologias condizentes com aquilo que a Ciência recomenda e a realidade nos mostra.
Sabendo que tal competição tem o objetivo de angariar recursos em benefício do “Projeto Transformar”, esclarecemos que somos favoráveis a atos que fomentem o exercício da solidariedade, desde que utilizadas as ferramentas pedagógicas e práticas sociais adequadas. A solidariedade deve ser um valor cultivado de forma genuína, pelo bem social, em detrimento de qualquer tipo de premiação.
A questão levantada não representa uma objeção à realização da Festa Junina na escola. Que tal festividade seja realizada, mas sem a prática de atribuir a alunos a venda de cartelas, rifas, etc., e coroações desprovidas de valor real.


Diante do exposto, reiteramos nossa reivindicação de que a competição de Rei e Rainha da Pipoca seja repensada pela escola. Caso tal prática seja mantida, frisamos que todo e qualquer ato correspondente a dinheiro, envolvendo a instituição, deve ser feito mediante contato com o responsável financeiro pelo estudante. Assim, solicitamos que seja respeitada a vontade das famílias que discordam dessa prática, de forma que as crianças não sejam diretamente abordadas, no interior da escola, para participar de ações arrecadatórias de qualquer natureza.

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